quarta-feira, 26 de maio de 2010

A cruz e o penhasco

Escutei essa estória agora no banheiro. Quando entrei, a moça que a contava já estava na metade. Nunca tinha ouvido, mas acho que sei o início dela.

Ela é mais ou menos assim:

Havia um homem que estava em um caminho carregando uma cruz. O porquê do caminho ou da cruz, eu não peguei. Só sei que ele estava ali, no caminho, com sua cruz. Não era uma cruz qualquer, era uma cruz enorme. E, por conta da grandeza da cruz, o homem andava devagarzinho e muitas pessoas passavam por ele, carregando cruzes pequenas e médias.

Ele decidiu, então, que ele não precisava carregar aquela cruz enorme. Que ele poderia carregar uma cruz menor, que podia diminuir sua cruz. Então, parou à beira da estrada, pegou um serrote e começou a cortar sua cruz. A fez pequena, do tamanho que conseguia carregar. E continuou no seu caminho, agora andando mais depressa.

Em um determinado ponto, deparou-se com um grande penhasco que precisaria atravessar. Mas agora sua cruz era muito pequena: ligar um lado ao outro precisaria de uma cruz do tamanho original da cruz do homem. Ele não pode seguir o caminho e teve que regredir.

Não sei contar estórias muito bem. Eu só queria mesmo me lembrar dela daqui a algum tempo. Sei que vou precisar.

sábado, 15 de maio de 2010

De cartas e postais passados

Hoje me mudei mais uma vez de quarto. Um primo virá morar conosco por algum tempo e eu tive que decidir em qual quarto ficar, afinal ter dois quartos significa o dobro da bagunça, e eu já não estava mais aguentando. Decidi voltar ao antigo quarto, gosto de ter um banheiro só meu, trouxe a mesa e não tenho mais motivos para ter uma cama grande.

Na mudança, aproveitei para arrumar uma caixa cheia de papeis. No meio de tantas contas, contratos, provas de ensino médio (que fiz questão de jogar no lixo!), achei as velhas cartas. Aquelas que deram início ao namoro. E os velhos postais. Os do começo e os do fim, do Rio e de Fortaleza.

Minha primeira reação colocá-los no saco de lixo. Há tempos tenho trabalhado meu desapego e jogado muita coisa fora. E foi o que eu fiz. Respirei fundo e continuei a arrumação. Sem sucesso. A curiosidade me puxou pelos calcanhares e me trouxe até o saco. Recuperei as cartas e os postais. E os li, um a um. Sempre seguindo a ordem, claro. E com a Jojo no meu colo, claro.

Terminei a última e uma única lágrima caiu. A primeira em meses. Pra quem me conhece e sabe como eu sou chorona, sabe que eu ficar meses (até dias!) sem chorar é uma coisa rara. E eu estava assim, como que sob um feitiço muito maligno. O feitiço se quebrou quando confirmei um pensamento que comecei a ter há um mês: eu já tive a história de amor perfeita, aquela em que todos os dias pareciam cenas de filmes. E o mal que essa história me fez no fim foi igualmente digno de cinema.

O amor acabou. “Já não era sem tempo” foi o comentário unânime dos amigos quando souberam da novidade. Contava sempre com um sorriso no rosto, como se estivesse finalmente sido liberta de uma prisão terrível, num calabouço escuro e horrendo. E era mesmo esse o gosto que tinha, gosto de liberdade. Eu poderia finalmente seguir em frente. E é o que eu estou fazendo nesse exato momento e há exato um mês, estou seguindo em frente.

Ainda é cedo para me envolver de novo. Ultimamente, eu quis (e tive que resistir bravamente à minha vontade de me entregar). Porém, eu sei o que eu não quero mais: não quero o amor dos sonhos. Quero uma pessoa real, uma pessoa que me faça sentir não como se eu estivesse vivendo dentro de um filme ou um livro, mas sim dentro da própria vida, da minha vida, da realidade. Quero alguém real. E aprendi a não estragar o momento com expectativas maiores que o universo.

Aqueles envelopes coloridos voltaram para a caixa. Para o fundo da caixa. E lá ficarão, assim como as lembranças que me trazem: esquecidas.

domingo, 4 de abril de 2010

Carta de Apresentação - AC SiNUS 2010

CARTA DE APRESENTAÇÃO

Alguns sonham em se tornar bombeiros quando crescer. Outros, astronautas e até super-heróis. Eu sonhava em ser Diretora da Agência de Comunicação da Sinus. Não é exagero dizer que me apaixonei por essa simulação à primeira reunião. Desde que participei da primeira AC, em 2006, os 5 dias de Sinus se tornaram para mim, secundarista ou universitária, os mais esperados e aproveitados do ano.

A Agência de Comunicação faz parte da Sinus desde a segunda edição, em 2003. Logo de início e até hoje, ela é vista como uma alternativa para aqueles alunos que querem simular, mas não se interessam pela vida de delegados. A Agência tornou-se um ponto de encontro para os estudantes que querem experimentar a rotina jornalística – das muitas horas de trabalho, aos almoços não almoçados e calos nos pés. E a cada ano, a AC se torna mais querida, mais concorrida e ganha espaço, além do enorme carinho e amizade de todos os participantes. Afinal, “A Gência” se ama.

Acreditem, jornalistas-to-be, a Agência de Comunicação é completamente diferente de qualquer comitê. Somos sempre os primeiros a chegar, os últimos a sair, os únicos a não ter intervalo. Existem os famosos e lendários almoços das quatro horas da tarde, os assaltos aos coffee-breaks anteriormente à entrega do jornal. Temos reunião de pautas, trabalhamos o dia inteiro, incluindo nas festas, nunca sabemos se podemos ou não participar das Olimpíadas, mas nos divertimos além da conta.

Peço licença para copiar um parágrafo do último guia que, para mim, explica com exatidão o que faremos na AC esse ano. “Não é fácil ser um repórter da Agência de Comunicação. O trabalho é duro, e a cada dia é preciso recomeçar. A produção da equipe vem estampada em um jornal todos os dias, é concreta, ganha vida própria nas mãos dos leitores. Assim como as boas matérias ganham destaque, cada erro é visto – e comentado – por todos, e a superação também precisa ser diária. Em todas as edições, após os cinco intensos dias de trabalho, o resultado percebido nos repórteres é um novo olhar sobre o fazer jornalístico, e a vontade de voltar no próximo ano. Ser da AC – dizem – é apaixonante.”

Como meu último diretor descreveu, nossa missão é observar com olhar apurado e poder compartilhar cada ângulo do evento. Nossas armas são os nossos blocos e canetas, e nossas câmeras também. E, além do mais, de que valeria viver um evento como esse sem poder noticiá-lo? Temos a possibilidade e a responsabilidade de dar voz aos personagens dessa simulação.

É com enorme prazer e orgulho que lhes apresento esse guia. O manual foi originalmente escrito pelos diretores da AC em 2009 e adaptado por mim agora, nesse ano. A eles, devo todos os créditos possíveis e muito mais. Cada um e todos me acrescentaram e me ensinaram tanto. Por isso, por tudo, quero agradecer a Gustavo Aguiar, Mariana Muniz, Mariana Haubert, Juliana Nogueira, Camilla Machuy, Bruno Silva, Lucas Doca e Fabiano Bomfim. E por que não voltar às raízes? Agradeço também a Rafael Targino, Fábio Tito, Evam Sena, Liana Lessa e Mel Bleil Gallo. Afinal, sem eles eu não teria continuado. Espero ser para vocês amanhã o que eles foram para mim ontem.

Em 2010, a Sinus firmou uma parceria com a Facto Agência - Empresa Júnior de Jornalismo da Universidade de Brasília. Então, vocês, caros repórteres, estarão em contato com graduandos que já são atuantes na área de assessoria de comunicação. Vão poder aprender junto com a gente, trocar experiências e sofrer da DPS (Depressão Pós-Simulação), a enorme tristeza que o final do evento gera.

Eu, Bárbara Cruz, estarei com meu colega de Facto, Felipe Malta, e seremos os responsáveis por supervisioná-los com o objetivo de produzir o melhor conteúdo possível, garantindo que a participação de cada repórter seja aproveitada ao máximo. É uma missão difícil, mas eu sei o quanto será prazerosa. Na nossa equipe, há pessoas com experiências em ACs e há aqueles que nunca nem ouviram falar em simulação, mas que tem enorme conhecimento a oferecer a vocês. Pois então, que todos aprendamos o máximo um com o outro e que aproveitemos. Essa pode ser a chance de você começar de vez a sua vida de repórter!

Bem-vindos à AC, queridos futuros colegas.

Bárbara Cruz
Diretora da Agência de Comunicação – Sinus 2010

quarta-feira, 10 de março de 2010

Pinta minha vida com tuas cores





A minha vida é regida não pelas cores de Almodóvar ou de Cezzane (aliás, são muito bonitas), mas pelas cores de Van Gogh.

Aos três anos, em uma atividade no meu primeiro ano de escolinha, a professora pediu que levássemos um desenho ou quadro ou foto que gostássemos para a aula. Tentaríamos recriá-las com tintas guaches. Levei os Girassóis de Van Gogh.

Pensando bem, acho que foi aí que comecei minha carreira de nerd. As outras crianças levaram fotos dos animais de estimação, dos pais, desenhos de gatinhos. E eu lá, com os meus girassóis.

Van Gogh pintou milhares. Aparentemente, era só o que existia na Holanda/França na época! O que eu levei mais especificadamente foi o mais famoso, esse aí da foto. Consegui a imagem de um livro que havia acabado de ganhar de aniversário do meu pai (ou do meu avô, nunca lembro) e foi abrir o livro na página e me encantar perdidamente!


Nunca mais larguei Vincent depois disso.

Aos seis anos, fiz minha mãe ler, capítulo por capítulo, a biografia do pintor ‘escrita’ pelo seu irmão, Theo. Na verdade, era uma reunião das cartas que Vincent enviava a ele durante seus longe. Foi a ele, também, que Vincent vendeu seu único quadro em vida. A pedido da mulher do irmão.

Mal pude acreditar, em 2005, quando pude visitar a Holanda. “Estou na terra dele!” Em Amsterdã, existe um Museu Van Gogh. Meus pés, minha alma tremeu ao entrá-lo. Já era fim de tarde, não poderíamos ficar tanto tempo, pois o Museu fecharia mais cedo. Além do mais, estava em reforma. Tudo conspirava contra, mas eu estava lá. Nada mais importava. A cada quadro, desenho ou carta meu coração, como se diz em inglês, would skip a beat.

Meu coração não processava aquilo que via. A ficha foi cair que eu vi, pessoalmente, o quadro, vários quadros do meu pintor preferido quando olhei pra essa foto!

Alguns anos depois, tive o privilégio de conhecer Paris (que ainda vai render um post beem longo, claro!) e o Museu D’Orsay, um dos lugares que mais me encantaram no MUNDO. Sem exagero. E eu nunca achei que poderia dizer isso de uma construção feita por homens e não da natureza!

Mais fotos. Mais quadros. Mais emoção. Nesse dia, cheguei a chorar. Sou manteiga derretida mesmo, ok?

Me apaixonei pelas pinceladas, pelo sofrimento, pelas cores. Quando estou feliz, são essas as cores que enxergo:

Quando estou triste, saudosa, melancólica:




(Bárbara trocou o fundo do seu twitter hoje por uma pintura que conheceu e se apaixonou de Van Gogh semana passada. Tem, em sua parede, um pôster de um quadro dele. Ninguém saberia que é dele se não houvesse o nome).


E ela também apanha do blogger e não consegue intercalar texto e imagem. As imagens estão todas no início! :/

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Sobre o tempo e o medo

Tenho uma teoria: não ficamos velhos, ficamos medrosos. Os anos passam, o medo toma conta.

Deixamos de pensar no ato em si e passamos a temer as possíveis consequências. Subir em árvore deixa de ser uma aventura prazerosa, pois há possibilidades. O pé pode escorregar do galho, a mão pode encontrar um espinho no caminho. Todas as possibilidades que passam pela cabeça acabam em desastre, em dor. Não pensamos mais no sabor da fruta que queremos alcançar ou na vista que teremos lá de cima.

Perguntar o 'por quê?' das coisas também não é mais tão divertido, pois as pessoas podem te olhar torto. Questionar é coisa de quem não sabe. E o desconhecido apavora e constrange os ‘adultos’.

Falo por experiência. Quantas coisas deixei de fazer nos últimos 10 anos por medo? Dançar, rir, descer uma cachoeira de rapel, dizer o que queria dizer. Deixei de experimentar uma boa parte da vida. Por medo ou por qualquer outra forma dele. Para mim, quase tudo se resume a medo. Timidez, por exemplo, é o medo de se expor. E essa eu conheço muito bem.

Não tenho mais aquela urgência de ficar mais velha. Não quero adicionar números à minha idade. Quero ficar mais nova. Quero ficar corajosa. Assim como eu era aos 6 anos.


(Escrevi esse texto na noite em que completei 19 anos. Pela primeira vez, não estava ansiosa pela data. Senti medo e, outra vez, deixei de aproveitar o presente. Pelo menos, serviu para aprender de onde o medo vinha.)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Nos bailes da vida

Não é segredo para ninguém que sou uma grande sonhadora. Que muitas vezes caio de cara no chão, mas que nunca deixei e não quero deixar de ter meus muitos momentos de cabeça-de-vento. Aprendi (aprendo toda vez) a encarar e a lidar com as decepções, as perdas, as quedas. Confesso, ainda dói muito, ainda me dá vontade de desistir e ser indiferente com a vida. Em cinco minutos, isso passa. Em cinco minutos, lembro-me de quem realmente sou.

E, pra variar, estou divagando.

Não é sobre minhas quedas que quero falar. Não agora, talvez depois.

Dessa vez, eu quero lembrar um sonho bom, um sonho que persiste. Sinto-me no dever de avisar desde já que o que eu chamo de sonho pode vir com outros nomes: planos, desejos, expectativas, aspirações, ilusões. E que, em diversos casos, é suficiente sonhar. Isso por si só me completa.

E, de novo, estou enrolando.

Indo direto ao ponto: músicas me inspiram. Pouquíssimas foram, até hoje, capazes de me arrepiar dos pés à cabeça. As que conseguiram, porém, normalmente têm uma coisa em comum: o intérprete geralmente é mineiro. (Minha ligação com esse estado lindo não pode ser cortada!).

Foi nos bailes da vida ou num bar
Em troca de pão
Que muita gente boa pôs o pé na profissão
De tocar um instrumento e de cantar
Não importando se quem pagou quis ouvir

Ouço essa música há mais de dez anos. Cerca de seis meses atrás, em algum lugar da estrada entre o Rio e o Espírito Santo, escutei-a de outra forma. Eu me vi na música. Dois dias antes, havia recebido a notícia/surpresa de que tinha passado no vestibular para Comunicação Social. E eu me senti perdida. Bateu um medo de não ser boa o suficiente para a profissão que havia escolhido. Questionei todas as minhas certezas quanto ao Jornalismo na minha vida. E meu chão mais uma vez se abriu.

A música tocou – pela terceira vez durante o percurso, devo acrescentar. E me veio logo à cabeça: se vários bons cantores começaram nos bailes da vida e, por terem começado nos bailes da vida, tornaram-se bons cantores, um jornalista pode se tornar um bom profissional se começar a escrever nos blogs da vida.

Faz algum sentido? Idiota demais?

O que eu quero dizer é que, apesar de seis meses atrasada, a ideia de montar um blog surgiu daí: do medo de ser uma jornalista mediana, ordinária – no sentido literal da palavra.

E que essa ideia se tornou hoje, para mim, não somente um modo de me tornar uma melhor repórter - ou seja lá o que eu escolha no meu futuro profissional. Eu quero me tornar uma pessoa melhor. Isso aqui é parte da mudança que, a partir de hoje, começarei a viver.

Dei o primeiro passo. Não há como voltar. Os bailes da vida me esperam de portas abertas. E eu quero dançar, eu quero dançar...


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Era o começo, agora é o fim

Citizen Cope - Sideways

You know it ain't easy
For these thoughts here to leave me
There's no words to describe it
In French or in English
Well, diamonds they fade
And flowers they bloom
And I'm telling you
These feelings won't go away
They've been knockin' me sideways
They've been knockin' me out lately
Whenever you come around me
These feelings won't go away
They've been knockin' me sideways
I keep thinking in a moment that
Time will take them away
But these feelings won't go away